Economia parando
 
                                                            Em fins de 2011, o Banco Central iniciou uma aposta arriscada contra a inflação e reduziu a Selic, a taxa dita básica da economia, mas que, na prática, serve principalmente para remunerar os felizes donos de títulos do Tesouro Nacional. Foi intensamente criticado: a taxa deveria ser mantida alta o suficiente para inibir aumentos de preços – uma política tradicional e que vinha dando certo nos últimos anos – mas com altos custos sociais e econômicos.
 
 Desconfiou-se que, entre aqueles que gritavam contra a redução da Selic, estavam justamente fiéis representantes dos banqueiros, eternamente beneficiados pelas taxas de juros mais altas do planeta e que, por isso, vivem muito contentes. Mas o Banco Central ganhou a aposta: ninguém se atreve a criticar sua visão de que as coisas estavam piorando e que a contaminação da economia brasileira pela crise dos países desenvolvidos estava em curso.
 
 A segunda parte da esperta manobra do governo veio a seguir: de um lado, reduzia pagamentos de juros da dívida pública e, de outro, realizava desonerações fiscais pontuais (também muito criticadas, em especial pelos que foram esquecidos).
 
 Onde estamos agora? Como um transatlântico com falhas nos motores, estamos parando: tudo o que foi feito até agora (estimular o consumo pelas famílias, reduzir juros aos consumidores e o IPI de alguns produtos etc.) não foi suficiente. A taxa de crescimento da economia, medida pela variação anualizada do produto (bens e serviços) ou pela variação da renda (salários, juros e aluguéis) ruma perigosamente para o zero.
 
 E de dentro e de fora, uma enxurrada de críticas: a “The Economist” envia alguns conselhos paternais; a “Newsweek” recomenda mais agressividade; a “Financial Times” insinua que o Brasil vai perder, na corrida do PIB, para o México e os demais emergentes. Os ouvidos do Banco Central e do Ministério da Fazenda estão quentes com a insistência das agências de risco e dos palpiteiros de plantão: teremos que crescer a 4% neste semestre para fechar o ano com medíocre 1,5%.
 
 Duas importantes conclusões: a primeira, somos mais vulneráveis aos tropeços da economia mundial – a globalização – do que jamais havíamos imaginado. Segunda, nosso aparato técnico não foi o suficiente para prevenir evolução do PIB inferior ao crescimento demográfico, o que vale dizer que teremos pequena redução da riqueza nacional per capita.
 
 Com toda a diversificação da nossa brava indústria, a população jovem e empreendedora, as possibilidades de duplicar a produção agrícola e mineral e crescer na área energética (pré-sal, álcool), o que temos? Simplesmente continuamos com o velho voo de galinha, curto e rasteiro.
 
 * por Miro Hildebrando, doutor em economia / artigo publicado no A Notícia
 
